Perversidade
sonora
A incerteza que
te dou é exacta. Tem dentro dos dedos a felicidade de deslizar sobre a tua
superfície monstruosamente densa e imensurável. Tem na ponta da língua o desejo
da maravilhosa surpresa destroçada. No desequilíbrio da perversidade dos teus
olhos, as sobras de voz que te deixo não passam de gemidos. São sinais da
cedência de passagem que o meu corpo rasga contra o grito, pelas noites
obscuras e imprevisíveis, no limite do vazio a que me ofereces. Já te contei
que a violência que existe, por entre a luz dos candeeiros de rua, quando o teu
corpo me encontra, me obriga a dar-te as palavras às quais não sei chegar. Mas
de nada serve dizer-te que quero modelar o mundo, encher os espaços de silêncio
e suor para descansar depois contigo. Tenho fome, tanta fome de que me mereças,
na construção da pele que depois de ti nunca mais será a mesma. Porque o meu
corpo só se despe ao som exacto da mão que o torna mais vivo. E por isso hoje
vou sacudir-te, mesmo sem saber se é isso que quero. Só porque preciso de te
ver de copo sobre a mesa, lá em baixo. Pelo meio da confusão, enquanto tu sabes
exactamente onde estás, eu canto para te perder no espaço. Para que morras tu,
hoje, por baixo da minha sombra fria. Preciso deste palco.
Texto : Lara Franco
Fotografia : Estelle Valente
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