INÚTIL
Segura-me inútil,
assim tombada de tudo e de nada.
Segura-me, inútil!
Segura-me ainda
que de nada te sirva.
Somos iguais, tu e
eu, não vês?
Abraça com força o
inútil de mim.
Larga o resto que
não sobra.
Não há que temer.
Deixa ao medo o
nada que resta do que seguras,
é tão pouco o que
te confio.
Não pode ser assim
tão difícil,
um quase nada de
gente,
levezinho.
Não há Cerélac
capaz de engordar a gente que não sou.
Nasceu assim o
bébé,
enfezado.
Nem com papas lá
vai.
É só,
atirar ao ar e voltar a agarrar
atirar ao ar e voltar a agarrar
atirar ao ar e voltar a agarrar....
Só isso.
Vais ver como ri
de felicidade,
ou lá do que riem
os seres levezinhos...
É só isso que
quer,
que o segures.
Nem que o atires,
que o segures.
Mas se para isso
tiver de voar,
não se importa,
fecha os olhos com
força e quando voltar a olhar,
já ri,
seguro.
Segura-o inútil,
assim tombado no ar,
de cada vez que
voa,
de cada vez que
ri.
Segura-o inútil,
assim tombado de tudo e de nada.
Inútil?
Não... levezinho,
apenas.
Lembra-te,
atirar ao ar e voltar a agarrar
atirar ao ar e voltar a agarrar
atirar ao ar e voltar a agarrar....
Repara como ri.
Que importa se de
felicidade ou se de outra fantasia qualquer?
Segura-me, inútil!
Ri-te, inútil!
Aproveita se te
faço útil.
Texto : Sofia Cunha
Fotografia : Estelle Valente